sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Rio de Saudades



Rio de Saudades
Orlando Otávio

Em tuas entranhas ramagens:
Via-se um belo dependurar,
Acortinando-se no rio perene,
Hoje vive a penar!...
Que graças a um artifício,
Ainda corre neste lugar.
-Inunda meu peito de saudade!
-Inunda meu peito de dor!
Lembrando da ávida areia,
Que remanescia das cheias,
De canto a canto... Findou!
Vastos campos de peladas,
Pedras como arquibancadas,
Até a da Margarida
De triste se aterrou!
Daquela água bem fria,
Que bebíamos sem vasilha,
Parecendo uma novilha,
Emudecendo o calor!
Do verde dos pés de juncos,
Onde nus brincávamos juntos,
Fazendo briga de rinha,
Com duas coitadas pacas,
Lutando numa bacia!
Das batatas da areia,
Comíamos de boca cheia,
Na presença do luar,
Eram arrancadas de meia,
Pra cheia não carregar!
Das piabas à correnteza,
Era fartura na mesa,
Na mochila e "samburá".
E dos banheiros de palha
De banho só pra mulher!
Das cacimbas d’água doce,
Das cajaranas dos Duré!
Do seu leito que escorria,
Entre o verde se espremia
Com seus remansos à tona!
Dói, ou não dói, no peito!
O rio daqueles tempos,
Que passava em Itabaiana?


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