sexta-feira, 26 de abril de 2024

 

 A   MORTE DA GAMELEIRA

( Lembranças de um " Moleque da Gameleira )


OBS - Escrevi essa CRÔNICA , em junho de 2003 , exatamente 2 meses após a Morte da Gameleira


      Primeiro , um crepitar forte de madeira se partindo . Depois , um baque surdo que estremeceu os alicerces das Ruas Antônio Ananias , Meira de Vasconcelos e Nezinho Almeida . Em seguida , um respeitoso silêncio !

      Acabava de morrer naquela tarde - noite de 21 de abril de 2003 , o Ser Vivo mais Antigo de Itabaiana : A bi ou tricentenária GAMELEIRA  !

      Passado o espanto inicial , os vizinhos da Árvore Anciã recém falecida foram chegando para conferir a tragédia . 

      Houve quem chorasse ao se deparar com a cena , lamentando a perda .

      Primeiro , chorou Nega Atanásio . Depois Cleide e Onaldo Fonseca . Outros vizinhos foram chegando e marejando os olhos diante de tão doloroso espetáculo . 

      Se vivos fossem , também chorariam : Daciano Alves de Lima , Manoel de Jesus , Raminho da Sela , Manoelzinho Feliciano , Clóvis Almeida , Antônio Tibúrcio , Dona Coló , toda Família Atanásio que já partiu , Meu Pai Zé de Paú , minha Mãe Tilinha , Meu Avó Manoel Felipe , Minha Avó Dona Finha , Meu Tio Joca , e tantos outros , que tiveram ligações afetivas com a Gameleira .

      Também chorei ! E de meu peito saiu aquele pranto baixo e comovido , que só ocorre diante das Grandes Perdas .

      Senti talvez , a mesma sensação que sentiu o Poeta AUGUSTO DOS ANJOS , quando a SUA ÁRVORE DA SERRA caiu sob os golpes do MACHADO BRONCO .

      Recuperado do choque que me causou a Morte da Gameleira , passei a lembrar o que significou prá mim , e para tantas outras pessoas , Vivas ou Mortas , A SOMBRA DA VETUSTA ÁRVORE para gerações e gerações de Itabaianenses .

      Intimamente , eu comparava a GAMELEIRA , a uma  Mulher Bonita , Charmosa e sobretudo Vaidosa . Sempre mostrando seus Encantos e Virtudes , sem contudo , divulgar sua Idade .

      Dona Zefinha Atanásio , uma anciã que morreu ainda lúcida com 101 anos , certa vez me disse que a Gameleira tinha muito mais de 200 anos , pois sua avó que também foi longeva , lembrava da Árvore já frondosa na época de sua infância .

      Considero a Gameleira , a Grande Matriarca de Itabaiana , uma vez que a Cidade nasceu , cresceu e se desenvolveu à Sombra de seus galhos e folhas .

      Acredito que seu Ciclo Vital , tenha sido de 250 à 300 anos . Ao
longo de todo esse tempo , essa Árvore foi Testemunha Viva da História da Cidade e do seu povo .

      Deu abrigo à Viajantes e Animais estropiados . Viu nascer os primeiros Ranchos às margens do Rio Paraíba que davam pousada aos Tropeiros e seus Animais de Carga no seu leva e trás de mercadorias entre as Cidades . Serviu de Estábulo para as Vaquinhas de Dona Coló ( quem lembra ? ) . Foi campo de futebol para a meninada . Foi " Ringue " para acerto de contas entre a gurizada . Foi Alcova e Cama para as CHAMEGADAS fortuitas na calada da noite para AMORES CLANDESTINOS . Foi espaço para jogo de pião , bola de gude , troca -troca de figurinhas de Álbuns de jogadores da Seleção Brasileira de Futebol Campeã do Mundo em 1958 e 1962 . Foi também local da feira de Cavalos , Burros Mulos e Jumentos nas 3° feiras .

      Sua Copa Frondosa , foi esconderijo eficaz para a molecada quando o Fiscal de Menores Antônio Ananias surgia de repente para coibir eventuais abusos. Não tenho certeza , mas certamente foi inspiração para o Mestre Sivuca quando ao compôr " Feira de Mangaio " disse :

- Tinha uma vendinha no canto da rua

- Onde o magaieiro ia se animar

- Tomar uma bicada com lambu assado

- E olhar prá Maria do Juá . Acho que a Vendinha era uma que tinha na Esquina da Gameleira 

      A meninada que todo dia " batia ponto " na Gameleira , era conhecida como os MOLEQUES DA GAMELEIRA . Hoje , me orgulho de ter sido um autêntico MOLEQUE DA GAMELEIRA , juntamente com : Luis Paraíba , Dudu , Grego , Raminho da Sela , os Filhos de Dona Lurdes Milanês , os sobrinhos e filhos de Nelson do Clube , os sobrinhos e filhos de Manoel de Jesus , os filhos de Antônio Jorge do Rancho , os netos de João Xixi , os filhos de Índio , os filhos de Dona  Maria Engomadeira , meus irmãos Marcos e Cacá  , Norbertinho e Cil meus primos , Valdo neto de seu João Bendito e tantos outros de minha geração e de gerações anteriores a nossa , que impossível seria nominalos nessa Crônica .

      O melhor seria dizer que todo menino de Itabaiana , em qualquer época foi um MOLEQUE DA GAMELEIRA . Não importa a posição que hoje a pessoa ocupe na escala social , o APELIDO , será sempre motivo de Orgulho .

      A Gameleira , as Areias , as Cacimbas e o próprio Rio Paraíba , foram Shopping Center e Playground de sucessivas gerações de Itabaianenses . Por nada no mundo , trocaria o aconchego daquelas tardes frescas e desocupadas sob os galhos e folhas da Gameleira , pelo ambiente artificial , frio e formal dos Shoppings Center Modernos .

      Ao longo de sua existência , a Gameleira deu muito de si à Itabaiana . Nunca recebeu um tratamento adequado que lhe prolongasse a vida . Pelo contrário , recebeu todo tipo de agressão . Senão , vejamos :

Primeiro , foi o calçamento da Rua , a impedir que a água da chuva chegassem a suas raízes . Depois , foi a construção de um Bar sob sua sombra . Isso sem contar com o EPÍTETO de mau gosto que lhe colocaram . PAU GROSSO ! 

      PAU GROSSO , UMA OVA ! GAMELEIRA !

      A palavra GAMELEIRA , tem mais poesia , mais musicalidade , mais sonoridade e mais PERSONALIDADE !

      Alguém já quis corta-la , só não conseguiu , graças a interferência de Cleide ,Onaldo e Nega Atanásio .


      A sombra amiga tombou sob o peso dos anos e descaso .

      Com a MORTE DA GAMELEIRA , tombou também o penúltimo dos Palcos de minha infância e adolescência . Senão , vejamos :

As Areias e Cacimbas do Rio Paraíba não existem mais , a Estação Ferroviária , o Campo de Peladas da Praça Epitácio Pessoa , a Feira de Gado do Alto dos Currais , o Terreno ao lado da Cadeia Velha onde amavam os Circos , o Cine Ideal com o troca-troca de gibis na frente , 

o " Sereno " do Itabaiana Clube no Centro da Cidade , o Caramanchão da Praça 24 de Maio e tantas outras coisas , JÁ NÃO EXISTEM MAIS !

      O Último Palco de minha infância e adolescência e Símbolo de Itabaiana , ainda está de pé , mas em estado lastimável . Refiro - me ao VELHO CORETO  ! Faço aqui um apelo ao Prefeito BABÁ , para que entre em contato com o Patrimônio Histórico e Geográfico da Paraíba , para que numa ação conjunta , evitem que também tombe , esse Último Marco de Nossa História .

      A Gameleira foi Grande até na MORTE . Escolheu para morrer , numa hora que Pessoas , Animais ou Objetos não estivessem aproveitando Sua Sombra e que provavelmente sofreriam danos físicos  e materiais . 

      Em apenas uma oportunidade , A Gameleira foi homenageada . Foi há 12 anos . Precisamente , no dia 26 de maio de 1991 , por ocasião do Centenário de ITABAIANA .

      Naquele dia , houve uma Sessão Solene da Câmara Municipal de Itabaiana , no Auditório do Colégio Nossa Senhora da Conceição em homenagem ao Centenário da Cidade . Entre vários Oradores que usaram a Tribuna , fui incumbido  como Vereador nessa época , a falar sobre ITABAIANA CENTENÁRIA . 

      Na Tribuna , usando Linguagem Figurada , Convidei , e dei Pensamento e Voz à VELHA GAMELEIRA , para que naquele momento , como VEREADORA HONORÁRIA da Cidade , do alto dos seus mais de 200 anos de idade , falasse da Terra onde tinha nascido e crescido e das histórias que seu bravo povo escreveu . 

      Por mais de 1 hora , a Velha Árvore dissecou Itabaiana , seu povo , suas lutas , seus costumes e sua história . Ao terminar seu discurso , A Gameleira foi aplaudida de pé por vários minutos pelo Governador Ronaldo Cunha Lima , vários Deputados , Prefeitos , Vereadores , outras Autoridades da Região e o Público em geral .

      Amiga Árvore , nesse próximo São João , certamente subirás aos Céus sob a Forma de Fumaça e Cinzas de algumas fogueiras , onde parte do teu corpo servirá de lenha .

      Eu , por ser um AUTÊNTICO MOLEQUE DA GAMELEIRA , e o teu mais devoto Súdito , na tua Morte , me senti na obrigação e no dever de Render - te está Segunda homenagem na forma de uma CRÔNICA , você fazendo parte das RECORDAÇÕES DO MEU PASSADO .


JOSÉ BARBOSA DE LUCENA

               ( DR . DEDÉ )


segunda-feira, 15 de abril de 2024

 ITABAIANA DE ONTEM: 

Grupo de mulheres da década de 50 registraram capacitação realizada  de conhecimentos culinários.



    Nesta foto estão reunidas senhoras da sociedade itabaianense. Certamente foi em um evento do curso de arte culinária  ministrado pelo sr. Hermínio que está no centro da foto tendo ao seu lado o pe. João Gomes da Costa e o dr. Londres. A foto foi tirada em frente do colégio de dona Marieta cujos elementos da fachada podem ser identificados.  A data seria em um ano da década de 1950. Podem ser reconhecidas Hilda Dure, Sans-Gêne Gonçalves,  Beatriz Gonçalves, Carmelita Almeida, Maria José Dure, Maria José Baeta, Beta Bandeira, entre outras. Quem poderia ajudar na identificação de outras?

Foto que pertenceu a Sans-Gêne Gonçalves, hoje com Tarcísio Cavalcanti de Melo.

terça-feira, 2 de abril de 2024

 Ódila Maroja, a Madre Itabaienense


Alaíde Maroja nasceu em Alagamar (na época pertencente a Itabaiana-PB) no dia 21 de maio de 1907, filha do Dr. Odilon Maroja Ribeiro Coutinho e Maria Alexandrina de Araújo, foi levada pelo seu pai para o Recife onde estudou em regime interno na Academia Santa Gertrudes em Olinda-PE. Foi aluna do Conservatório de Música de Pernambuco, tendo feito os cursos de piano e violino. Aos 22 anos seguiu a vocação religiosa como Freira da Ordem das Beneditinas. Lecionou durante 14 anos na Faculdade de Santa Gertrudes. 

Em 1949 chegou ao Colégio Sant’Ana em Bom Jardim-PE. Em 1952 com seu dinamismo conseguiu a equiparação do Colégio com curso Primário e Ginasial para o Normal Plural e formação de professores, sendo a primeira turma formada por dezenove alunas. Professora polivalente dominava fluentemente a língua portuguesa, o francês e o alemão, além de ministrar aulas de Piano, Violino e Acordeon. Ainda em Belo Jardim, Fundou a Congregação das Religiosas Beneditinas da Virgem Maria.
 
Em 1980 foi transferida pela Ordem para Buíque, a partir daí não mais lecionou. Lá passou 22 anos e 05 meses dando sua colaboração na catequese. No dia 25 de abril de 2003 veio a falecer em Buíque-PE, local em que seu corpo foi velado durante a noite e no dia seguinte foi levado para Bom Jardim a seu pedido, onde foi sepultada com muita honra e dignidade sendo decretados três dias de luto. [1]

Madre Ódila é considerada uma das grandes Educadores de Pernambuco. Em sua homenagem existe:
Creche Irmã Ódila em Buíque – PE;
Rua Madre Ódila Maroja em Bom Jardim – PE;
Biblioteca Madre Ódila Maroja (na Escola de Referência em Ensino Médio Dr. Mota Silveira, em Bom Jardim-PE). [2]

[1] Adaptado do texto de Bruno Araújo - Pascom da Paróquia de Sant'Ana 
[2] Pesquisa com a colaboração do Frei Elizeu Félix Ofm