quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Fotografia e Memória IX

Encontro do Padre Antonio Costa, Vigário de Itabaiana-Paraíba de 1954 a 1956, com paroquianos. Nevinha Melo, Bernadete Galvão, Dalila, Eliete Fonseca, Ana Oliveira, Naninha Queiroga, Luiz Barbosa, Dalvinha. Foto cedida por Francisco Amâncio.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sementes do Amor


Trabalho enviado pelo poeta Antonio Costta em homenagem a Zora Lira.
             
         

Meio século da morte de minha sogra.




Dona Nelza Cabral viveu sob o crivo da modernidade em uma cidadezinha acanhada e preconceituosa da Paraíba por nome Itabaiana do Norte. Lia muito e gostava de desenhar. Pintava quadros elogiados pelo Coronel Raul Geraldo de Oliveira, mestre da pintura.

Faz meio século que dona Nelza morreu. Essa pessoa iluminada pelo talento era, por assim, dizer, uma figura além do seu tempo. Uma estrela brilhante a ofuscar os medíocres de sua cidadezinha.

Não conheci dona Nelza, minha sogra, mas soube que era uma pessoa simples, sem aquele comportamento pequeno burguês um tanto ridículo, próprio das elites interioranas. Seu marido ocupava importante cargo na diretoria da maior empresa particular da cidade, era um homem refinado. Dona Nelza vivia o mais discretamente possível. Não gostava dos bailes elitistas, das ostentações vazias de uma sociedade ornamentada pelo falso brilho da opulência. Apreciava o rio Paraíba, tinha por hábito tomar banho nos poços do rio e desenhar. Desde criança. As coisas simples que ninguém via ou valorizava, a poesia da vida oculta a fazia viver quieta, pelos cantos. Era quase uma incompreendida, como todo artista.

O desenho acima representa a ponte ferroviária de Guarita sobre o rio Paraíba, rabiscado em lápis grafite numa folha de caderno pautado escolar. Foi um ensaio de dona Nelza quando mocinha, em um dos piqueniques que se costumava fazer no rio naquela época. Pelos nossos cálculos, este desenho tem mais de setenta anos. Uma relíquia guardada pela filha Geovana, que hoje mora na Bahia.  
 
Visitei esse recanto do rio, recentemente. Parece que estancou no tempo, aquele sítio do lado esquerdo do Paraíba, outrora centro da nossa indústria coureira, hoje extinta. A decadência econômica congelou o distrito de Campo Grande. Casas velhas abandonadas, campos vazios, ruínas. Com o vento que corre nas margens desertas do rio, sopram as lembranças daquela juventude que fazia piquenique com o futuro maestro Sivuca, e no meio da algazarra juvenil a frase altiva e o alvo riso da menina-moça Nelza, no nascimento de suas invenções artísticas.

Fábio Mozart

Nelza Cabral (à esquerda, com rosa no cabelo) ao lado do menino Sivuca em 1945, em piquenique 

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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Zora, de sonhos e paixões.


Em Campo Grande da margem esquerda do Rio Paraíba(Pernambuquinho), Itabaiana, Paraíba, nasceu Maria do Socorro Lira, Zora.  O seu pai, José Maria Porfírio, conhecido como “Trobador”, era cantor nas noites boêmias e sua mãe, Josefa Francelina de Lira, cuidava da casa e da mercearia do casal.

Advogada, compositora, cantora e poeta, Zora Lira fez sua primeira letra de música aos 12 anos de idade. Foi professora em Campo Grande e funcionária da Prefeitura Municipal de Itabaiana.


No dia 07 de novembro de 1968, aniversário da morte do ex-prefeito José Silveira, em comício do candidato Josué Dias de Oliveira, realizado em frente à Casa da Mãe Pobre, Zora Lira cantou, pela primeira vez para um grande público, uma música com letra sua, que enaltecia as virtudes do prefeito morto, e que passou a ser conhecida como “O Sonho”. Na presença de Mário Silveira, Humberto Lucena, políticos itabaianenses e mais de quatro mil pessoas, a toada gerou um impacto muito forte entre os seguidores de Zé Silveira, causando choros e desmaios e, segundo Zora, deu a vitória ao PMDB. Incomodados com o sucesso de “O Sonho”, os adversários ridicularizaram a música e, na eleição seguinte, foi proibida a sua divulgação pelo TRE. 

 Em 1980 publicou o seu livro de poesias intitulado “Revelações” e, em 2002, realizou um sonho e gravou o CD “Zorah Lira – De Todas as Paixões”, com nove, das doze músicas, compostas pela romântica itabaianense.

Sobre a polêmica de que a música “Feira de Mangaio”, de Sivuca e Glorinha Gadelha, faz referência à feira do município de Sousa, na Paraíba, afirma, Zora Lira, que seria uma grande coincidência que naquela cidade do sertão outras “Zefa de Porcina” e “Maria do Juá” existissem. Zefa de Porcina e Porcina eram, respectivamente, tia e bisavó da cantora campograndense e Maria do Juá uma figura popular, todas filhas e moradoras de Campo Grande do Mestre Sivuca.


Zora Lira pretende gravar um novo CD, desta vez de forró, reeditar seu livro “Revelações” e publicar um novo livro de poesias com o título provisório de “Reflexos da Alma”.

Associação Cultural Memória Viva



Zora, vejo em você um grande talento que os empresários não descobriram ainda,
porém para tudo tem o tempo e poderá ser por ocasião do lançamento do seu CD de forro.

Pedro José da Silva - Defensor Público.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Itabaiana, terra de bamba

O escritor itabaianense Erasmo Souto é um dos que figuram no livro “Artistas de Itabaiana”. 



Itabaiana do Norte é pródiga em mestres das mais variadas artes. Temos um gênio sanfoneiro, outro destacado artista das artes visuais reconhecido na Europa, o que é considerado responsável pelo moderno cinema documentário, aquele que atravessou o oceano para beber na fonte da Mãe África, o pós-doutor em teatro, formado nas melhores escolas cubanas e a ceramista cujo trabalho atinge também as fronteiras do mundo. Exemplos não faltam da genialidade do artista aqui nascido. A esses nomes consagrados, juntam-se os artistas populares, alguns de projeção nacional, como o Ratinho da melhor dupla sertaneja da história de nossa música, outros esquecidos, os que não alcançaram visibilidade, nem por isso menos dotados de altíssimo grau de capacidade criadora.

Fiz um mosaico desses criadores nas mais diversas áreas, com breve biografia destinada a fortalecer nosso orgulho de sermos conterrâneos dessas figuras e registrar para as gerações seguintes nosso rico acervo de nomes de vulto, se não pela fama, mas pela sua importância na construção de nossa identidade cultural. Artistas do teatro de bonecos, do canto de raiz, virtuosos instrumentistas e compositores, escritores, atores, mágicos, palhaços, poetas e mamulengueiros, ícones da cultura popular itabaianense de todos os tempos, registrando breves dados biográficos com a proposta de sistematizar, organizar e divulgar os artistas populares, poetas e intelectuais que publicaram livros em Itabaiana, como um acervo facilitador da construção de um sentido de pertença, cidadania e auto-estima de artistas da comunidade itabaianense.

O livro “Artistas de Itabaiana” acaba de ter patrocínio aprovado pelo Fundo de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos, da Secretaria de Cultura do Estado, conforme publicado no Diário Oficial de ontem (13 de fevereiro). Vai ser lançado em maio, durante o aniversário da cidade. É minha contribuição à festa da emancipação política da terra do Mestre Mané Risadinha, do mestre Mocó, do pifeiro Cachimbinho e de Galego Aboiador. Os artífices da cultura popular itabaianense, que se fortalecem mesmo na adversidade, estão expressos neste livro.

Para completar, o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar também aprovou projeto no FIC para realizar o “Cortejo de bois e caboclinhos”, onde registraremos em vídeo documentário os brincantes em ação, tratados com o respeito que merecem, livres da presença incômoda e violentadora de “paredões” e outras parafernálias. O carnaval tradição, historicamente pouco abordado, maltratado e humilhado, terá seu registro digno. É um ato de construção de uma sociedade civilizada que respeita seu passado e suas legítimas expressões artísticas. Se não acreditasse nisso, eu já teria renunciado, há muito, a lutar pela preservação do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Biu do Vasco e do carnaval




Esse é o Biu do Vasco, desportista e carnavalesco de Itabaiana, lendário sambista, mestre de bateria, figurinista e produtor da Escola de Samba Imperadores do Ritmo. Esse rapaz já fez pelo carnaval e pelo futebol da cidade muito mais do que muitos prefeitos. Cabe citá-lo com reverência quando se trata de cultura popular na terra de Biu da Rabeca, lugar de ótimos artistas e péssimos administradores.

Por ser pobre, é visto com desconfiança. Mas são fortes as raízes do Biu na sua comunidade. Devido a isso, consegue juntar uns trocados, pedindo no comércio, e bota sua escola de samba todos os anos na rua. Biu é descendente direto de figuras como Dolfo e seu irmão Índio, patronos do futebol e do carnaval, lutadores pelas nossas melhores tradições no esporte, fundadores e mantenedores do glorioso União Sport Clube e da Escola de Samba.

A negligência do chamado poder público no fomento à criação e acesso à cultura popular dá lugar a esses heróis da resistência. Sem pessoas como Biu do Vasco e outros tantos abnegados, nosso carnaval de rua seria apenas lembrança.  Pela tenacidade de figuras como o mestre Zé Leiteiro, já falecido, e outros mestres de bois, caboclinhos e troças, os reais construtores do nosso carnaval, ainda temos um carnaval de rua que se preza.

Tão importante quanto o trabalho de Biu no carnaval é seu desempenho na preparação de novos atletas de futebol. Uma historinha: meu irmão mais novo, Lavoisier, aos dezessete anos era a maior revelação juvenil do time de Biu do Vasco. Ótimo meia-direita, recebeu convite de um empresário para jogar no futebol da Suécia. Minha mãe não aprovou a carreira futebolística de Lavoisier que acabou tornando-se pastor protestante. O futebol perdeu um craque e a igreja ganhou um pregador. Ainda hoje Biu lembra de Lavoisier e seu futebol, lamentando os muros que a fé de minha mãe ergueu entre o estrelato da bola e seu antigo pupilo. 

Postado por TOCA DO LEÃO em 05.02.2013


http://www.fabiomozart.blogspot.com.br/2013/02/biu-do-vasco-e-do-carnaval.html


Leonilla Almeida, personagem do livro "Memórias do Cárcere" de Graciliano Ramos


Leonilla Félix de Almeida, nascida no distrito de Campo Grande, em Itabaiana, Paraíba, foi imortalizada pelo escritor alagoano Graciliano Ramos, no seu livro Memórias do Cárcere, onde narra a prisão dela e do seu esposo, Epifânio Guilhermino, confinados na Ilha Grande durante o Estado Novo de Getúlio Vargas.

No cárcere, Leonila conviveu com outros homens e mulheres partidários de avanços sociais, presos durante a chamada Intentona Comunista.

Ela esteve presa na mesma cela com Olga Benário, a mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes, além de Elisa Berger, Cármem Ghioldi, Maria Werneck e outros revolucionários.

Leonila Almeida saiu de Itabaiana para se tornar personagem da literatura universal, com sua luta plena de entusiasmo pelos melhores ideais de justiça e igualdade.

(Texto de Fábio Mozart publicado na revista Centenário de Zé da Luz e na Enciclopédia Nordeste)

Postado por TOCA DO LEÃO

http://www.fabiomozart.blogspot.com.br/2013/02/leonilla-almeida-personagem-do-livro.html