Teus filhos e amigos te visitam hoje e tomam um susto... Enorme! Quanto descuido, quanta lama, quantos buracos, quanto desamparo, quando abandono. Minha amada, ferida nos seus mistérios. Ouço teus uivos, tua dor que vem de tantas bocas e de tantas mentes, entendo tua necessidade de gritar por socorro.
Sigo meu caminho nos corredores de la vida sem esquecer, porém, de ti, meu amor! Sofrida e sofrente aldeia dos poetas e dos uirapuru-verdadeiros. O peso e o cansaço desse teu viver atual, angustia as vozes dos filhos ausentes. Majestade da linhagem dos soberanos artistas geniais de teclas e tablados, Rainha que se distinguia dentre outras pela tua brasileiramente linda forma de cantar e tocar a vida.
Passaram-se 120 anos de tua alforria, mas de modo silencioso e exigente perguntas: quem me livrará desse peso angustiante da opressão dos negócios públicos mal caminhados? Quem vai me salvar de tão profundo e doloroso processo de exploração? O que será da geração atual, caminhando trôpega pelo cotidiano engravidado de maus exemplos, de modos ordinários, da estreita mesquinharia dos amorais, da opacidade dos indiferentes aos meus mais ricos valores?
Recolho com as mãos trêmulas os pedaços esparsos do teu passado e encho a caixinha da esperança, partilhando fé junto à longa procissão dos teus queridos Marieta Medeiros, professor Mendonça, professor Maciel, Vladimir Carvalho, Arnaud Costa, Zuza Ferreira, Pingolenço, Zé de Nana, Clóvis Almeida, Arlinda Verdureira, Mala Véia, Chico do Doce, Zé Mário Pacheco, professor Benjamim, Romualdo Palhano, Orlando Otávio, Jurandi Pereira, Werber Veloso, professora Nini, Zé Ramos, Valdemir Enxuto, Joacir Avelino, Erasmo Souto, Aracílio Araújo, Adeildo Vieira, Bastos de Andrade, Zé da Luz, Sivuca, Índio, Chiquinho do Banco, Brasinha, Boró, Capão, Ratinho, prefeito Neco Araújo, prefeito Everaldo Moraes, poeta Eliel, Otto Cavalcanti, mestre Zé Duda do Zumbi, Tota artesão, prefeito Josué Dias, poeta Antonio Maia Neto, Tenente Lucena e uma extensa lista de etcéteras.
Toda essa legião tateia procurando criar expectativa de que a ruptura aconteça e que voltes a ter horizontes, porque quem já se foi e quem aqui permanece tem, por séculosseculorum, um pé no mundo e outro atado à tua ponte velha, às tuas pedras dançarinas, ao teu cheiro de dama antiga que reinventa sua própria arquitetura, apesar dos momentos-acidentes.
Um abraço pra ti, meu amor! Que Bebé Chorão toque hoje os sinos do silêncio para anunciar que o teu tempo represado irá ressurgir, digno e corajoso, para salvar tua pele imortal.
TOCA DO LEÃO
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