sábado, 12 de março de 2011

Chiquinha de Itabaiana


Chiquinha foi uma figura popular  marcante nas décadas de 1960/70 em Itabaiana. Os jovens  que  viveram a época  devem  recordar . Durante as peripécias dela, muitos  ainda estudavam e ou trabalhavam na cidade, outros   já residiam  fora por força das  circunstancias  educacional e profissional,  mas   sempre retornavam  à terrinha  para rever amigos, namoradas e participarem das inesquecíveis festas que a cidade promovia.

A vida seguiu em frente dentro de um mundo que virou de ponta a cabeça, muitos casaram, outros casaram separaram e casaram de novo, outros optaram em não casar e continuar na condição de solteiro, mas nada disso vem ao caso, o importante é que cada um esteja feliz e  sempre nostálgico em relação aos seus  anos dourados em  Itabaiana.

Fiz a citação acima sobre estado civil, porque a historia da Chiquinha tem muito a ver com  casamento, pois a  vontade dela de casar era  tanta que terminou de cuca pirada, mas não teve jeito , a coitada  morreu solteira.

Chiquinha, foi um  personagem real  que viveu em Itabaiana assim como foi  Maria da Garrafa, Nino da Continência,  Galo Assado que entregava pão e tantos outros., cada um no seu estilo e na sua interpretação peculiar , mas que marcaram registro na historia popular da cidade.

Eu conheci a Chiquinha  na minha infância, ela residia na Rua de São Sebastião, rua essa que dava continuidade a Rua da Boca da Mata após a travessia da linha do trem. Chiquinha, era um moça solteira , na faixa de 40 a 50 anos de idade,  virgem convicta e sacramentada  e,  muito religiosa. Era uma  figura baixinha, não tinha mais de  1,50 metro  de altura,  muito vaidosa dentro de sua simplicidade feminina, andava sempre bem penteada, maquiada e perfumada, no estilo da época. Morava sozinha numa casinha pequena, mas muito bem arrumada e limpa e, sobrevivia do  trabalho de lavar e engomar roupas.

Lembro-me de Chiquinha  ainda com  comportamento normal, muito extrovertida e falava pelos cotovelos. A rua da   Boca da Mata era  caminho  obrigatório de suas  idas e vindas ao centro da cidade e, como eu morava nessa rua, assistia  sua passagem varias vezes ao dia.Por ser uma católica ferrenha todos os dias que tinha missa ela passava rápida como um disparo de bala para Igreja,  na ida nem cumprimentava as pessoas, mas em compensação no retorno  parava de casa em casa para prosear,  ficando  horas afim tagarelando.

Até então a Chiquinha se comportava com normalidade, contava sorrindo que já tinha realizado todas as simpatias de São João para arrumar um pretendente, porque seu sonho era casar, mas nunca havia arrumado um namorado sequer, não sabia se por azar ou porque não fazia as simpatias corretas. Outro fato curioso, é que repetia  com freqüência  que nunca  havia deixado de assistir uma cerimônia de casamento na Igreja,   porque para ela,  ver uma moça vestida de noiva,  era como ver Nossa Senhora e sempre se emocionava e chorava.

Com o passar do tempo,  Chiquinha começou  mudar seu comportamento, não sei bem como tudo começou, se o personagem nasceu dos seus  próprios neurônios ou se alguém o injetou,  mas estava começando surgir uma noiva  de amor platônico na cidade. Seu primeiro amor platônico foi  o Arnaldo Almeida , o  saudoso Naná  que era noivo da Teresinha Barbosa   moradora da Boca da Mata   e  ele, sempre se fazia presente naquela rua  com sua alegria e extroversão com todos, e a Chiquinha fazia parte desse todo. De repente não sei por qual  “ berros d´água” a Chiquinha cisma que o Naná é seu noivo  e que ele é louco e apaixonado por ela, e passa a agredir Teresinha  com palavras.

Daí em diante, a galera da época tomou conta, não faltou que não criasse  encrenca da Teresinha para a Chiquinha e ela, a Chiquinha ,  virava uma fera  e  dizia  de tudo a nível baixo com  a  noiva do Naná, e a  galera cada vez mais aumentava para se divertir e Chiquinha aumentava sua ira. A Teresinha sempre levou o caso numa boa, mas tinha medo de ser agredida.

Passado esse episodio o caso Chiquinha tomou conta da cidade, sempre aparecia alguém arrumando um novo noivo para ela e toda cena se repetia.. Muitas vezes a vi  cercada por pessoas e transtornada pela ira,  a ponto de partir para agressão física em cima da namorada do seu irreal noivo.

Presenciei vários desses episódios, Valdeci  noiva do Luzinaldo Lucena e Zaíra namorada do  Pedro do Funrural  eram duas que a Chiquinha brigava todos os dias. Ambas trabalhavam no comercio, a Valdeci na loja paulista e Zaíra em outra loja que não me recordo, lojas essas que Chiquinha não deixava de visitar. O pior de tudo era que muitos dos noivos apontados alimentavam a doidice , e ai  a Chiquinha ficava se sentindo  dona do pedaço.

Quando rememoramos o passado, lemos romances literários  ou assistimos obras de época,  sempre nos deparamos com personagens semelhante a esse  da Chiquinha, principalmente quando se trata de uma solteira  balzaquiana, estagio na vida  que muito perturbava a cabeça das  mulheres  e a levava a gozação publica, prato cheio para personagem de sucesso dentro das obras.

No mundo atual  e através do conhecimento da  psiquiatria / psicologia , podemos mensurar o tamanho das maldades que eram praticadas com relação as essas  pessoas emocionalmente perturbadas,  era na verdade uma baita violência psíquica, mas também  há  de se convir que  a visão do povo era outra,  pequena e restrita, e as autoridades em nada se pronunciava a respeito, então tudo era levado na brincadeira e gozação

Vale a pena recordar.

 Orlando Araujo.



Amigo, Orlando
Você hoje me fez voltar 30 anos, quando ainda era apenas um garoto de 11 anos e lembro-me muito saudosamente daquela Itabaiana e seus personagens tão pitorescos. Das várias figuras marcantes do meu tempo lembro-me de Nino continência, Pibite, entre outros, e tive também o privilegio de conhecer Chiquinha, pois a mesma freqüentava muito a rua Boca da Mata, onde morava o meu avô José Marinho e que era passagem obrigatória dela como também lembro muito dela comprando perfumaria na loja do meu pai.
Lembro-me também de Chiquinha muito zangada na padaria de Zé Mário, cansada de responder a mesma pergunta que todos lhe faziam quando ela circulava pelo comércio... O que você não sabe é que Chiquinha morreu “noiva”! Pois é... Nos idos dos anos 80, não sei bem te dizer em que ano, Chiquinha circulava pelo comercio e ao entrar em um certo estabelecimento avistou um representante de uma determinada firma vendendo seu produto. Pois bem, como se sabe a vontade de Chiquinha de se casar era tanta que qualquer um que passasse a sua frente logo se tornaria pretendente, e o dono do estabelecimento, para não perde a oportunidade, logo cuidou de apresentar o rapaz e encher a cabeça de Chiquinha de esperança e foi o que aconteceu. Nesse dia, para piorar a situação, o rapaz ficou sabendo do seu drama e que se tratava de uma pessoa humilde e carente e ficou compadecido daquela senhora. Na hora de ir embora o rapaz lhe deu certa quantia em dinheiro e se foi, para nunca mais voltar, foi transferido ou demitido, não se sabe, o que se sabe é que a historia se espalhou, a própria Chiquinha fazia questão de contar para todos que estava noiva e cuidou logo em fazer o enxoval e divulgar o nome de seu amado Juvenal. Logo ficou conhecida como Chiquinha de Juvenal. Todos que lhe cumprimentavam logo perguntava: “e Juvenal, como está?” “E Juvenal, quando vem?” Sem falar que todos que lhe ajudavam financeiramente faziam questão de lhe dizer que foi Juvenal quem mandou e assim viveu as últimas décadas de sua vida a espera de Juvenal, o seu grande amor.
Tenho certeza que seu último desejo, se perguntado, seria que em sua lápide estivesse gravado “aqui descansa em paz “Chiquinha de Juvenal”´.
Luciano Marinho



Um comentário:

  1. lembro bastante de Chiquinha. Toda maqueada com um monte de papel enrolado na mão,dizendo que era as escrituras que Juvenal mandou pra ela. E em seus delirios dizia que Juvenal estava, nas Oropas construindo uma máquina para fazer meninos de olhos azuis.

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