segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Em 12.02.1965 morria o poeta itabaianense Zé da Luz




ZÉ DA LUZ

Por Amaury Vasconcelos (*)

Itabaiana viu nascer Severino Andrade da Silva, que escolheu o nome artístico DE Zé da Luz, indo sua existência de 29/03/1904 a 12/02/1965. Menino arrimo, responsável pela família, não quis ser fogueteiro, como seu pai morto tão cedo, e aprendeu o ofício de alfaiate, onde a mim próprio talhou-me o primeiro terno de caça comprida, entre nove e dez anos em Guarabira, em 1935, onde o conheci, em fraternal estima e mútua admiração intelectual, entre ele e meu pai Benvindo.

Menino ávido, assisti-o recitando os seus versos, em declamação perfeita, mímica, harmoniosa e precisa, caracterizado em calça e camisa de mescla ou em “brim da Polista”, como falam seus versos. Chapéu de couro indicava o matuto.

Seu recital era no Colégio Pedro Américo. E eu estático, admirado, envolvido no enleio dos seus versos que descreviam o panorama nordestino, em lirismo impecável. Ouvi meu pai apresentá-lo aos seus alunos e outros admiradores, exclamando: “Tu és, Oh! Zé Da Luz, um Bilac de chapéu de couro”. Sua passagem em Campina aproximou-o dos intelectuais, poetas, escritores, cantadores de feira, tais como, Antonio Telha, Lopes de Andrade, Cristino Pimentel, José Pedrosa, apresentando-se em recitais, inclusive radiofônicos.

Pelo seu sucesso em Campina, apoiou-o Argemiro de Figueiredo, fazendo-o publicar pelo A União a primeira edição de “Brasi Cabôco”. Repetindo-se até a 6ª. Edição, entre elas pelo O Cruzeiro e a Acauã, esta com a 4ª. Edição de “O Sertão em Carne e Osso”. Daí, já lhe consagraram Manuel Bandeira, Zé Lins do Rego, Mário Poppe em crônica na mais popular revista do Brasil “Fon-Fon”, onde diz: “Depois de Catulo da Paixão Cearense não conhecemos outro versejador sertanejo mais interessante”; Eudes Barros, afirmando: “Não há nada de artificial, de falso, de literato nos versos de Zé da Luz. É um livro de carne e osso. Um livro que vive. Um livro humano”.

Elogiaram-no ainda neste início, Padre Manoel Otaviano, Euclydes Cezar, areiense brilhando em Fortaleza, e dizendo: “Revelasse-nos um admirável psicólogo ao aprofundar os segredos insondáveis da alma humana, sem nunca ter lido Pascal”.

Que pena, falta-nos espaço, mas é impossível ocultar o que dele disse Ronaldo Cunha Lima no seu discurso de Posse na Academia de Letras de Campina Grande, hoje, Casa Amaury Vasconcelos, tendo-o como patrono:

“Zé da Luz é um patrimônio da cultura popular e elemento integrante do nosso folclore, da nossa tradição, da nossa literatura. Através de seus poemas, ele eternizou a essência de um povo, sua alma, seu sangue, seus sentimentos. Soube cantar e decantar a terra e sua gente, a alegria e a dor com aquela significação de grandiosidade telúrica que José Lins do Rego exaltou e que Manuel Bandeira enalteceu pela autenticidade radiosa do poeta paraibano. Zé da Luz, como poeta popular semeou e espargiu seu enorme talento sobre as forças da verdade subjacentes que compõem o aspecto fisionômico da história social de nossa região”.

Para finalizar, contudo, o que dele disse em prefácio, o sempre e imortal seu quase conterrâneo Zé Lins do Rego, aquele que imortalizou as margens do Paraíba, enlanguecido no caminho lento para o mar, ao som da brisa farfalhante de seus canaviais, descrevendo tipos, cópias vivas e imortais de estátuas humanas, cujos destinos se vinculavam à terra, soterrados na desigualdade  da burguesia açucareira, ou em seus dramas íntimos, tão bem romanceados e bem copiados do real, brincando ele o beletrista com a ficção.

Infeliz da terra que tem o filho imortal e não valoriza a sua vida e obra, no caso, na perfeição rítmica do verso, alma viva de um Brasil Caboclo, verdadeiramente em Sertão Bravo, tão em Carne e Osso.

(*)Escritor, historiador e poeta paraibano.

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