quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Adeus, Dedé Locutor!


                                      


Quando ele nasceu eu tinha 7 anos. O meu pai ficou assaz alegre! Confeccionou os convites dourados, que foram entregues nas casas dos seus amigos, por mim e pela minha irmã Célia.

Célia e eu também fomos incumbidos de chamar Dulce, na Av. Suburbana, a moça que iria cuidar de mamãe durante o resguardo. Lembro, como se fosse hoje, o recado que Dulce mandou: "Diga ao seu pai que eu vou lavar o focinho (achei engraçada essa expressão) e já chego."

Hiperativo, quebrou o bracinho ainda pequeno. O hospital regional de Itabaiana não trabalhava com fraturas. Papaizinho o levou para o pronto socorro de fraturas de João Pessoa, que ficava, na época, na Visconde de Pelotas.

Durante o tratamento, dormimos algumas noites na casa do compadre do meu pai, Carlos Leal Rodrigues, na Av. Expedicionários. Acordava algumas vezes com ele batendo na minha cabeça com o gesso. Era um menininho buliçoso, como se dizia. rsrs

Fez teatro comigo no GETI, aprendeu a tocar violão e em algumas ocasiões cantamos em serestas, quando pedia para que eu repetisse várias vezes a canção "Fascinação".

Era louco por poesia e acho que, depois de mim, foi o cara que mais recitou os poemas do poeta Severino Dias, em especial "Milaigue e Castigo".

Tinha uma memória fotográfica! Num momento em que o nosso pai recepcionou um seu candidato a deputado estadual, na sede da Sociedade Beneficente dos Trabalhadores de Itabaiana, decorou uma fala espetacular e sapecou um discurso inflamado, deixando-nos boquiabertos, inclusive o candidato, e sem saber mais o que dizer.

Para mim ele será sempre aquele garotinho magricela, que gostava de sentar no capô da Variant amarela do nosso pai.

Hoje, no seu sepultamento, na cidade de Condado - PE, não obstante tanta dor, fiquei encantado com o amor que a cidade lhe devotava: esposa, filhas, sogra, cunhados, cunhadas, amigos... alguns choravam dizendo: "Meu Deus, temos de enterrar o nosso contador de histórias!" Muitos me procuraram para dizer: "O seu irmão, Dedé Locutor, era um poço de alegria."

Quem o conheceu, sabe do que estou falando! Não havia tempo ruim para ele. Antes da internação, lhe fiz uma visita e ele estava visivelmente muito doente, mas paradoxalmente fez-nos rir a tarde toda, enquanto gemia de dor.

Era o seu caráter! E aprouve a Deus levá-lo ao seu seio no Dia das Crianças, como a honrar a criança que ele sempre foi na terra.


Sander Lee

Um comentário:

  1. Obrigado, amigos que fazem a Associação Cultural Memória Viva, por reproduzirem esta declaração que fala do meu carinho por Ferreira Filho, o meu querido irmão, também conhecido por Dedé Locutor, que partiu deixando saudades eternas.

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