Quando ele nasceu eu tinha 7 anos. O meu pai ficou assaz
alegre! Confeccionou os convites dourados, que foram entregues nas casas dos
seus amigos, por mim e pela minha irmã Célia.
Célia e eu também fomos incumbidos de chamar Dulce, na Av.
Suburbana, a moça que iria cuidar de mamãe durante o resguardo. Lembro, como se
fosse hoje, o recado que Dulce mandou: "Diga ao seu pai que eu vou lavar o
focinho (achei engraçada essa expressão) e já chego."
Hiperativo, quebrou o bracinho ainda pequeno. O hospital
regional de Itabaiana não trabalhava com fraturas. Papaizinho o levou para o
pronto socorro de fraturas de João Pessoa, que ficava, na época, na Visconde de
Pelotas.
Durante o tratamento, dormimos algumas noites na casa do
compadre do meu pai, Carlos Leal Rodrigues, na Av. Expedicionários. Acordava
algumas vezes com ele batendo na minha cabeça com o gesso. Era um menininho
buliçoso, como se dizia. rsrs
Fez teatro comigo no GETI, aprendeu a tocar violão e em
algumas ocasiões cantamos em serestas, quando pedia para que eu repetisse
várias vezes a canção "Fascinação".
Era louco por poesia e acho que, depois de mim, foi o cara
que mais recitou os poemas do poeta Severino Dias, em especial "Milaigue e
Castigo".
Tinha uma memória fotográfica! Num momento em que o nosso
pai recepcionou um seu candidato a deputado estadual, na sede da Sociedade
Beneficente dos Trabalhadores de Itabaiana, decorou uma fala espetacular e
sapecou um discurso inflamado, deixando-nos boquiabertos, inclusive o
candidato, e sem saber mais o que dizer.
Para mim ele será sempre aquele garotinho magricela, que
gostava de sentar no capô da Variant amarela do nosso pai.
Hoje, no seu sepultamento, na cidade de Condado - PE, não obstante
tanta dor, fiquei encantado com o amor que a cidade lhe devotava: esposa,
filhas, sogra, cunhados, cunhadas, amigos... alguns choravam dizendo: "Meu
Deus, temos de enterrar o nosso contador de histórias!" Muitos me
procuraram para dizer: "O seu irmão, Dedé Locutor, era um poço de
alegria."
Quem o conheceu, sabe do que estou falando! Não havia tempo
ruim para ele. Antes da internação, lhe fiz uma visita e ele estava
visivelmente muito doente, mas paradoxalmente fez-nos rir a tarde toda,
enquanto gemia de dor.
Era o seu caráter! E aprouve a Deus levá-lo ao seu seio no
Dia das Crianças, como a honrar a criança que ele sempre foi na terra.
Sander Lee
Obrigado, amigos que fazem a Associação Cultural Memória Viva, por reproduzirem esta declaração que fala do meu carinho por Ferreira Filho, o meu querido irmão, também conhecido por Dedé Locutor, que partiu deixando saudades eternas.
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