Esta foto do
compadre George Mendonça, (revelação de fotógrafo sensível), mostra a ladeira
da antiga União dos Artistas e Operários de Itabaiana. Esta crônica vai para
meu compadre Joacir Avelino, companheiro dos velhos tempos na terra que viu
nascer Antonio Maia Neto, o poeta das caibreiras, desses poetas que sabem os
segredos da beleza artística das palavras e das coisas simples de sua aldeia.
Recordar as
vezes em que subimos a ladeira da União para beber com o maquinista Bertoldo,
apologista da poesia popular, no Bar do Berto. Subindo a ladeira para beber na
bodega de Arnaldo maquinista, pai de Ronaldo Morelle. Galgando os paralelepípedos
íngremes da ladeira para farrar e dançar forró na Sociedade Beneficente dos
Trabalhadores, sob a batuta de Nicó e Prezado. No pé da ladeira, a sede da
União dos Artistas e seus bailes de carnaval famosos, suas reuniões literárias
sob o comando do elegante Daciano Alves de Lima, cunhado do poeta Zé da Luz, ao
som da Banda 1º de Maio. Foi ali onde Zé da Luz declamou seus versos pela
primeira vez em público, Sivuca tocou seu acordeon nos forrós de São João e
Ratinho emocionou os itabaianenses nas décadas de 30/40 com seu saxofone
mágico, ao indagar melodiosamente: “Saxofone, por que choras?”.
Descendo a
ladeira com o bloco “Nó Cego” comandando pelo Dr. Dedé e Machinho, o folião
mais enfezado deste mundo carnavalesco. Descendo a ladeira para ensaiar a peça
“Hoje a banda não sai” no palco da União, onde Joacir fazia o papel de um
músico bêbado, sendo que o ator sempre estava realisticamente e
irresponsavelmente bêbado. Mover de cima para baixo o bloco dos atores do Grupo
Experimental de Itabaiana, com Fábio Mozart no papel de Lampião, Sanderli
vestido de beato, Joacir trajado de Satanás, Geraldo Caranguejo metido numa
batina de padre safado e Biu Penca Preta fazendo o papel dele mesmo, carregando
um saco de tira-gosto de galinha assada no forno de Maciel e roubada do quintal
do Sargento Avelino, pai de Joacir. De contra-peso, Pedro Lourenço manejando os
bonecos do babau de Chico do Doce.
Ladeira da
União, quantas recordações! Após suspiros e pasmações de saudade, a raiva por
saber que nossa ladeira da União fechou suas portas mais tradicionais. Deixaram
morrer a União. O bar de Berto não existe mais, tampouco a bodega de Arnaldo.
Os salões dos recitais e palestras literárias estão em ruína. No fim da
ladeira, a Sociedade dos Trabalhadores virou igreja “pegue pague”.
Meu compadre
Joacir, a única notícia boa que tenho é que vai assumir um novo prefeito,
itabaianense da gema, prometendo reerguer a União e transformar seus salões em
museu da cidade, sob a responsabilidade da Associação Memória Viva. Amém!
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
http://www.fabiomozart.blogspot.com.br
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