ZÉ DA LUZ
Por Amaury Vasconcelos (*)
Itabaiana viu nascer Severino Andrade da Silva, que escolheu
o nome artístico DE Zé da Luz, indo sua existência de 29/03/1904 a 12/02/1965.
Menino arrimo, responsável pela família, não quis ser fogueteiro, como seu pai
morto tão cedo, e aprendeu o ofício de alfaiate, onde a mim próprio talhou-me o
primeiro terno de caça comprida, entre nove e dez anos em Guarabira, em 1935,
onde o conheci, em fraternal estima e mútua admiração intelectual, entre ele e
meu pai Benvindo.
Menino ávido, assisti-o recitando os seus versos, em
declamação perfeita, mímica, harmoniosa e precisa, caracterizado em calça e
camisa de mescla ou em “brim da Polista”, como falam seus versos. Chapéu de
couro indicava o matuto.
Seu recital era no Colégio Pedro Américo. E eu estático,
admirado, envolvido no enleio dos seus versos que descreviam o panorama
nordestino, em lirismo impecável. Ouvi meu pai apresentá-lo aos seus alunos e
outros admiradores, exclamando: “Tu és, Oh! Zé Da Luz, um Bilac de chapéu de
couro”. Sua passagem em Campina aproximou-o dos intelectuais, poetas,
escritores, cantadores de feira, tais como, Antonio Telha, Lopes de Andrade,
Cristino Pimentel, José Pedrosa, apresentando-se em recitais, inclusive
radiofônicos.
Pelo seu sucesso em Campina, apoiou-o Argemiro de Figueiredo,
fazendo-o publicar pelo A União a primeira edição de “Brasi Cabôco”.
Repetindo-se até a 6ª. Edição, entre elas pelo O Cruzeiro e a Acauã, esta com a
4ª. Edição de “O Sertão em Carne e Osso”. Daí, já lhe consagraram Manuel
Bandeira, Zé Lins do Rego, Mário Poppe em crônica na mais popular revista do
Brasil “Fon-Fon”, onde diz: “Depois de Catulo da Paixão Cearense não conhecemos
outro versejador sertanejo mais interessante”; Eudes Barros, afirmando: “Não há
nada de artificial, de falso, de literato nos versos de Zé da Luz. É um livro
de carne e osso. Um livro que vive. Um livro humano”.
Elogiaram-no ainda neste início, Padre Manoel Otaviano,
Euclydes Cezar, areiense brilhando em Fortaleza, e dizendo: “Revelasse-nos um
admirável psicólogo ao aprofundar os segredos insondáveis da alma humana, sem
nunca ter lido Pascal”.
Que pena, falta-nos espaço, mas é impossível ocultar o que
dele disse Ronaldo Cunha Lima no seu discurso de Posse na Academia de Letras de
Campina Grande, hoje, Casa Amaury Vasconcelos, tendo-o como patrono:
“Zé da Luz é um patrimônio da cultura popular e elemento
integrante do nosso folclore, da nossa tradição, da nossa literatura. Através
de seus poemas, ele eternizou a essência de um povo, sua alma, seu sangue, seus
sentimentos. Soube cantar e decantar a terra e sua gente, a alegria e a dor com
aquela significação de grandiosidade telúrica que José Lins do Rego exaltou e
que Manuel Bandeira enalteceu pela autenticidade radiosa do poeta paraibano. Zé
da Luz, como poeta popular semeou e espargiu seu enorme talento sobre as forças
da verdade subjacentes que compõem o aspecto fisionômico da história social de
nossa região”.
Para finalizar, contudo, o que dele disse em prefácio, o
sempre e imortal seu quase conterrâneo Zé Lins do Rego, aquele que imortalizou
as margens do Paraíba, enlanguecido no caminho lento para o mar, ao som da
brisa farfalhante de seus canaviais, descrevendo tipos, cópias vivas e imortais
de estátuas humanas, cujos destinos se vinculavam à terra, soterrados na
desigualdade da burguesia açucareira, ou
em seus dramas íntimos, tão bem romanceados e bem copiados do real, brincando
ele o beletrista com a ficção.
Infeliz da terra que tem o filho imortal e não valoriza a
sua vida e obra, no caso, na perfeição rítmica do verso, alma viva de um Brasil
Caboclo, verdadeiramente em Sertão Bravo, tão em Carne e Osso.
(*)Escritor, historiador e poeta paraibano.
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