Aquelas duas craibeiras gigantes, da Praça Desembargador Heráclito Cavalcanti, em Itabaiana, que no mês de Dezembro se cobriam de flores côr de ouro e projetavam uma sombra acariciante e morna e em seus ramalhos os pássaros enamorados iam fazer os seus ninhos, caíram no chão aos golpes impiedosos do machado de um Prefeito desalmado, precisamente no mês de setembro quando se comemorava o Dia da Arvore.
Recordo-me que nos idos de 1915 quando residia em Itabaiana, aquelas
duas craibeiras, agora abatidas cruelmente, já eram majestosas e davam Flores
douradas. E cresciam para o Alto querendo tocar as estrelas com a sua majestade
silenciosa. E escrevi uma crônica sob o título Arvore dourada, publicada no
"Jornal", hebdomadário de propriedade do dr. Odilon Maroja, tecendo
um hino panteísta àquelas árvores tão boas, onde se ia, debaixo de sua copa,
conversar com as moças elegantes da época: Ducinha Batista, Olga Araújo, Araci
Coutinho, Agripina Ferreira, Nenen Batista, Afrinha, Lindinha Henriques,
Ducinha e Carminha Coélho, Lizete e Guiomar Rezende, Severina e Heloiza
Almeida, que andavam bolindo com o coração dos rapazes. E era ainda, na magia
da sua sombra, que se reuniam Batista Lins, Zuza Ferreira, Alcebiades
Gonçalves, Aurélio Ferreira, Aquilidones Guimarães, Euclides Ferreira, João
Florindo, Regis Velho, José Maria Menezes, Melquíades Montenegro, Severino
Moura e outros, a juventude, dourada daquele tempo, recitando versos,
discutindo política e literatura. Era debaixo da sua florada côr de ouro,
ouvindo a voz dos segredos, que se realizava o encontro poético dos namorados.
E as preferidas passavam, elegantes e sedutoras, atraindo os corações com a
chama do seu olhar...
Gozando a frescura daquele sombreiro florido brincavam os alunos do
Colégio de "Seu" Maciel, os meninos Olívio Maroja, Zé Lins do Rêgo, que
naquele colégio era conhecido por Doidinho, Melquíades Montenegro, o latinista,
e outros, que são hoje figuras de relêvo no mundo das letras do Brasil. E as
meninas do Colégio de Dona Mariêta, como um bando de borboletas traquinas,
folgavam também naquela sombra incendiada de luz ao pino do meio dia, como num
refúgio confortador.
Quando o Prefeito anunciou a sua resolução, de derrubar aquelas duas árvores portentosas, plantadas há quase um século, quando Itabaiana era um pouso de boiadeiros para a feira de gado grosso, as matronas venerandas da cidade, dona
Ritinha Coelho, dona Hosana Cordeiro e outras, zelosas da tradição e da beleza da
sua terra, mandaram pedir ao Edil que não praticasse tão hediondo vandalismo.
E, diante desse gesto cheio de emoções e de um justo sentido ecológico,
que fez o Prefeito? Teve um sorriso de mofa, e recebeu aquela mensagem com um
ar maligno... E as árvores quase seculares, foram abatidas perversamente...
Que mal faziam aquelas árvores? ... Eram majestosas e Acolhedoras.
Desapareceram para sempre da paisagem ambiental de Itabaiana, e com elas, a
apoteose de suas flores cor de ouro, em dezembro. Se foram, como aquelas figuras
antigas: Neco Germano, João Lins, Odilon Maroja, Antônio Coitinho, Augusto Coêlho,
o Juiz Azevedo, o promotor Samuel, o velho Lucinho, Major Nenéu, Joca Paula,
Seu Tonho Menezes, o Chico Soter, e tantos outros, que só ao lembrar-los se
enche meu coração de saudade... Há apenas uma diferença dentro da realidade: enquanto
aquelas figuras antigas que talvez tivessem visto as craibeiras nascerem, ou
crescerem e darem flores e sombra, entraram na Eternidade serenamente,
conduzindas pela mão da Morte, e aquelas árvores, coitadas, desapareceram aos
golpes do machado, como criminosos abatidos por um carrasco. Os seus troncos,
os seus galhos, os seus ramos foram servir de combustível, atirados à bosa das
fornalhas pedindo lenha, das padarias da rua do carretel...
Na Índia, aos tempos dos vedas, as suas divindades mandavam decepar as
mãos daqueles que criminosamente abatia uma árvore que dava frutos ou flores,
sombra amena e aconchegante ou carinhosamente abria a sua copa para o ninho das
aves...
O eminente Sr Pedro Gondim, Governador eleito da Paraíba, não deve se desaperceber
de tão estúpida depredação...
Henrique de Figueiredo, Caruaru, Outubro de 1960.
Essa crônica emociona, como era bonita a antiga Itabaiana, não foi a toa que recebeu o titulo de Rainha do Vale do Paraiba
ResponderExcluirEu ainda alcancei essas craibeiras, vi muitas vezes o tapete amarelao ouro que se formava embaixo delas, brinquei muito colocando em cada dedo uma flor que delas caiam.
Estudava no colégio de D. Marieta e por elas passava diariamente, muitas vezes entrei na sala de aula com os dedos ainda cheios de flores.
A derrubada dessas craibeiras foi o ponto de partida para Itabaiana começar ser transformada em uma cidade sem identidade cultural no que se refere a paisagismo de beleza natural, bem como na ignorância da preservação do seu patrimônio histórico, também pudera os Prefeitos eleitos a partir desse que derrubou as craibeiras não quero mencionar nomes porque todo mundo sabe quem foi, vieram em seqüência para quebrar a praça do correto, transformar a Praça 24 de maio em uma favela urbana, transformar todas as mini pracinhas da rua grande em botecos, demolir os prédios históricos da cidade, teve até gestor tentando tirar do mapa o o rio Paraíba vendendo a areia do seu leito.
Desculpem senhores prefeitos alguns até amigo pessoal, mas ignorância cultural de vocês ficou registrado na historia de nossa Itabaiana.
Lando Araujo