sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A Cauda do Demônio.


                                                       

Com dificuldade de distinguir o real da fantasia, as crianças, geralmente até os 6 anos de idade têm medo de máscaras. E o carnaval em nossa região era a festa mais temida por elas.  No reinado de Momo esses adereços eram muito usados,  fosse  em blocos,  ou individualmente pelos papangus, figuras que surgiram no século XIX e que permaneceram vivos por décadas.  Caracterizavam-se por brincantes que saíam às ruas vestidos, geralmente,  com roupas do outro sexo e mascarados.

E Itabaiana dos anos 50 e 60, que apresentava  um dos melhores carnavais da Paraíba, foi palco dos afinados blocos de frevo Taiobas e Pão Duro e das cadenciadas escolas de samba Imperadores do Samba, Última Hora e Acadêmicos do Ritmo, também tinha os seus grupos de  papangus.  As figuras bizarras costumavam amedrontar as crianças e parar nas casas dos amigos, desafiando-os a adivinharem quem estava por baixo daquela indumentária; isso entre risos e gargalhadas e carreiras das crianças apavoradas.

Em certo domingo de carnaval da minha infância, a convite do meu pai Zé Bandeira, entrou em nossa casa, para comes e bebes, uma turma de homens mascarados, acompanhada por orquestra de frevos.  O bloco de rua chamava-se “O diabo e suas almas”, mas havia mais diabos do que almas, devido ao grande número de rabos pontudos que eu pude observar antes de me esconder no terceiro quarto da antiga casa da Praça Epitácio Pessoa.

 Na escuridão do quarto fechado, vendo pouco, mas com os ouvidos bem atentos, eu estava inerte, só o coração batendo em louca disparada. Implorava ao meu Anjo da Guarda que levasse, mais que depressa, todos aquelas figuras assustadoras para bem longe de minha casa.

E naqueles minutos que mais pareciam horas, de súbito alguém abre a porta do quarto que era um depósito da revista “O Cruzeiro”,  de brinquedos e de uma grande mala de couro antiga onde eu estava sentada. Olhei paralisada para a porta. Um diabo entrava de mansinho com a cauda na mão. O meu medo beirava o pavor. Dirigiu-se a mim dizendo:  -“Margaret, deixa que eu guarde este rabo dentro desta mala; depois eu venho  buscar.”  O fato de ele me conhecer era o que me fazia tremer cada vez mais. Não ousei levantar os olhos. E ele saiu cantando:

‘A minha fantasia de diabo
Só falta o rabo, só falta o rabo
Eu vou botar um anúncio no jornal:
Precisa-se de um rabo
Pra brincar no carnaval’

Dias depois estaciona uma Harley Davidson em frente de casa. Era Valdemar Cavalcanti, tio de Otto Cavalcanti. Veio buscar o rabo de sua fantasia.


Margaret Bandeira





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