Com dificuldade de distinguir o real da fantasia, as
crianças, geralmente até os 6 anos de idade têm medo de máscaras. E o carnaval
em nossa região era a festa mais temida por elas. No reinado de Momo esses adereços eram muito usados,
fosse em blocos, ou individualmente pelos papangus, figuras que surgiram no século XIX e que permaneceram
vivos por décadas. Caracterizavam-se por
brincantes que saíam às ruas vestidos, geralmente, com roupas do outro sexo e mascarados.
E Itabaiana dos anos 50 e 60, que apresentava um dos melhores carnavais da Paraíba, foi
palco dos afinados blocos de frevo Taiobas e Pão Duro e das cadenciadas escolas
de samba Imperadores do Samba, Última Hora e Acadêmicos do Ritmo, também tinha
os seus grupos de papangus. As figuras bizarras costumavam amedrontar as
crianças e parar nas casas dos amigos, desafiando-os a adivinharem quem estava
por baixo daquela indumentária; isso entre risos e gargalhadas e carreiras das
crianças apavoradas.
Em certo domingo de carnaval da minha infância, a convite do
meu pai Zé Bandeira, entrou em nossa casa, para comes e bebes, uma turma de homens mascarados, acompanhada por
orquestra de frevos. O bloco de rua chamava-se
“O diabo e suas almas”, mas havia mais diabos do que almas, devido ao grande número
de rabos pontudos que eu pude observar antes de me esconder no terceiro quarto
da antiga casa da Praça Epitácio Pessoa.
Na escuridão do quarto
fechado, vendo pouco, mas com os ouvidos bem atentos, eu estava inerte, só o
coração batendo em louca disparada. Implorava ao meu Anjo da Guarda que levasse,
mais que depressa, todos aquelas figuras assustadoras para bem longe de minha
casa.
E naqueles minutos que mais pareciam horas, de súbito alguém
abre a porta do quarto que era um depósito da revista “O Cruzeiro”, de brinquedos e de uma grande mala de couro antiga
onde eu estava sentada. Olhei paralisada para a porta. Um diabo entrava de
mansinho com a cauda na mão. O meu medo beirava o pavor. Dirigiu-se a mim
dizendo: -“Margaret, deixa que eu guarde
este rabo dentro desta mala; depois eu venho buscar.” O fato de ele me conhecer era o que me fazia
tremer cada vez mais. Não ousei levantar os olhos. E ele saiu cantando:
‘A minha fantasia de
diabo
Só falta o rabo, só
falta o rabo
Eu vou botar um
anúncio no jornal:
Precisa-se de um
rabo
Pra brincar no carnaval’
Dias depois estaciona uma Harley Davidson em frente de casa.
Era Valdemar Cavalcanti, tio de Otto Cavalcanti. Veio buscar o rabo de sua
fantasia.
Margaret Bandeira
Margaret Bandeira
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